Eja e Educação Profissional e a leitura do mundo



Por Vanessa dos Reis Domingues*



A Eja assim como as demais políticas compensatórias na área da educação, demonstram a dívida social histórica com as classes menos favorecidas. Não esqueçamos que a instituição "escola" foi imposta pelos "colonizadores" aos "colonizados" pela Companhia de Jesus. Uma escola feita pelo poder da Igreja com acesso somente pelas famílias de "cabedal" (de posses). Ao verdadeiro povo brasileiro, os indios, restou a catequização... "Que podem um trabalhador camponês ou um trabalhador urbano retirar de positivo para seu quefazer no mundo, para compreender, criticamente, a situação concreta de opressão em que se acham, através de um trabalho de alfabetização em que se lhes diz, adocicadamente, que a "asa é da ave" ou que "Eva viu a Uva"?Reforçando o silêncio, em que seacham as massas populares dominadas pela prescrição de uma palavra veiculadora de uma ideologia da acomodação, não pode jamais um tal trabalho constituir-se como um instrumento auxiliar de transformação da realidade" (Freire)Portanto educação de jovens e adultos assim como educação profissional, nas modalidades de Eja, Proeja, Projovem, na verdade são programas que buscam incluir parcela considerável da população que não foi atendida de forma satisfatória pela escola formal e também não foi qualificada para o mundo do trabalho pelas escolas técnicas públicas e Universidades, em sua grande maioria elitizadas. Por isto a proposta metodológica e curricular não pode ser aquela que já excluiu anteriormente... e exclui como um projeto de sociedade onde o status quo nunca seria questionado, onde o povo jamais se organizaria para transformar a sociedade...Este é o desafio, educação de qualidade que vá além das competências para a leitura efetiva do mundo pelos educandos, oportunizando assim a transformação social.



*Professora de História e Sociologia, Gestora da Unidade de Educação Profissional- SME de Canoas-RS

O cântico da terra - Cora Coralina

Eu sou a terra, eu sou a vida. Do meu barro primeiro veio o homem. De mim veio a mulher e veio o amor. Veio a árvore, veio a fonte. Vem o fruto e vem a flor. Eu sou a fonte original de toda vida. Sou o chão que se prende à tua casa. Sou a telha da coberta de teu lar. A mina constante de teu poço. Sou a espiga generosa de teu gado e certeza tranqüila ao teu esforço. Sou a razão de tua vida. De mim vieste pela mão do Criador, e a mim tu voltarás no fim da lida. Só em mim acharás descanso e Paz. Eu sou a grande Mãe Universal. Tua filha, tua noiva e desposada. A mulher e o ventre que fecundas. Sou a gleba, a gestação, eu sou o amor. A ti, ó lavrador, tudo quanto é meu. Teu arado, tua foice, teu machado. O berço pequenino de teu filho. O algodão de tua veste e o pão de tua casa. E um dia bem distante a mim tu voltarás. E no canteiro materno de meu seio tranqüilo dormirás. Plantemos a roça. Lavremos a gleba. Cuidemos do ninho, do gado e da tulha. Fartura teremos e donos de sítio felizes seremos. Cora Coralina